Seus produtos, perante uma concorrência que está enfrentando o mesmo caos tributário, estavam perdendo sua competitividade e isso é desafio exclusivamente da empresa.
Some a isso um futuro incerto com um forte processo de inovação disruptiva com a adoção de carros autônomos e movidos a eletricidade e chegamos a um caos para a organização. Sua maior competitividade se restringe mundialmente nas picapes e as mesmas hoje no Brasil tem um mercado restrito e muito competitivo. Desenvolver produtos específicos para o mercado brasileiro é muito caro e deixou de ser uma prioridade.
E sim porque em janeiro houve uma mudança tributária. Quando da construção da fábrica na Bahia houve grandes subsídios. Estamos falando de muitos bilhões de reais, que duraram aproximadamente 20 anos. Foram os tempos do Fiesta e da Ecosport e de grandes lucros da filial brasileira, sendo inclusive uma das mais lucrativas do mundo. Na renovação desses subsídios ao final de 2020 eles foram cortados em 50% – para todas as montadoras – e isso foi a gota d’água que transbordou o copo e a decisão de abandonar a grande fatia do mercado brasileiro de veículos pequenos.
O mercado brasileiro, um dos maiores mundiais, não deve ser ignorado. O fator tributário foi uma pequena parte da decisão e no meu ponto de vista apenas a acelerou a decisão, pois suas concorrentes, ao contrário, ao contrário, estão investindo no mercado brasileiro.
Disso podemos fazer uma reflexão sobre como queremos uma reforma tributária. Quais setores queremos incentivar com uma carga tributária menor? Quais realmente seriam estratégicos e possíveis com este incentivo de serem estimulados e desenvolvidos para depois voarem por conta própria? Lembremos que para haver uma diminuição da carga tributária de um setor, outros setores tem que pagar a conta. Não existe almoço grátis!
Enfim, O que eu vejo muito são incentivos sem nenhum nexo, sem estimular vocações estrategistas e que após cessarem deixam um legado de fracasso. A Ford é só um exemplo. Já tivemos outros e teremos muitos mais.
A solução passa pelo conhecimento, pela disciplina de decidirmos uma política de austeridade e racionalismo nos benefícios fiscais e a seguirmos fielmente. O que precisamos é de negócios sustentáveis que possam ser estimulados com um custo tributário menor e não de competitividade criada artificialmente e sustentada eternamente pelos bolsos de todos nós que pagamos impostos.
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1 comentário em “A saída da FORD e os equívocos das políticas de incentivos fiscais brasileiros”
Que texto esclarecedor, procurando entender a ciranda tributária, obrigada Mestre.